domingo, 10 de janeiro de 2021

Sobre tudo aquilo que preciso (te) escrever

Eu sei que é um desses momentos em que o desespero me toma conta, desses em que me sinto sufocada e preciso gritar, desses em que eu me jogo no buraco negro que sou eu e não posso suportar. Eu só quero implorar, enquanto palavras saem da minha boca e do meu coração sabendo que quem as recebe talvez não as sinta. Aí eu nem existo mais. Me sinto um amontoado de acontecimentos desastrosos onde eu mesma caí e tropecei numa pedra bem pequena, mas que resultou em um braço quebrado, várias cicatrizes, dores imensas. Às vezes não são pedras mas sim paredes imensas, postes. Só me bato nelas no meio do caminho porque nãoas vejo, me distraio no caminho. Talvez minha vida física seja uma grande metáfora da minha vida emocional/subjetiva. Vivo tropeçando nos meus próprios pés. Já quebrei um tornozelo num degrau de menos de 10 cm. Talvez eu ande errado pela vida. Mas o objetivo talvez dessa divagação é dizer que hoje enxergo muitos postes e paredes e tenho aprendido a evitá-los, a caminhar pelo caminho sem barreiras, sem hematomas, sem dores desnecessárias - porque sabemos que a vida já dói o suficiente-. Mas será tarde demais? Essa sou eu floreando palavras e cheia de rodeios disfarçados de divagações quando na verdade eu quero falar com você. É pra ti que escrevo, enquanto o faço escrevo pra mim também, mas é pra ti. É meu coração sangrando por ter eu mesma enfiado uma faca dentro dele. É meu coração sangrando porque sei que dilacerei o teu e, sentir quem a gente ama sofrer por algo que fizemos é morrer duas vezes e, agora no meu caso, é flutuar num mar escuro sem céu nem estrelas e não saber onde estou. Eu só quero te sentir... mas nenhuma palavra mais eu tenho coragem de dizer pois seria só repetição. Talvez eu queira admitir: eu estraguei o nós, a vida juntos, os gatos, a aliança e todo o universo de coisas que tínhamos. A confiança. Depois de ter te feito sangrar e confiar em mim eu estraguei tudo. Não sei a essa altura se alguma coisa que diga vai fazer alguma diferença positiva ou estancar algum sangue. Mas eu só preciso dizer coisas que tenho pensado esses dias que poderia ter dito naquela nossa conversa difícil. Organizei pensamentos sozinha e na terapia e queria só te contar umas coisas que acabei descobrindo e fazer pequenas confissões. A primeira e mais difícil é: eu cheguei, naquele momento horrível, ao meu fundo do poço pessoal. É difícil dizer e talvez ler isso mas, naquele dia em que fiquei com aquele cara eu nunca tinha me sentido tão suja, enojada de mim. Eu senti que, sem perceber, eu me joguei na latrina mais suja, na maior vergonha, me senti indigna de vida, um nada. Naquele exato momento, eu ali chapada e no escuro, com meu corpo doendo e sem sentir nada mais do que asco, percebi meu fundo do poço. Engoli e derramei umas lágrimas largadas no escuro e voltei pra casa sentindo que eu tava perdida. Eu, sim, interpretei a meu modo umas coisas que a gente tinha conversado e na minha cabeça doente eu imaginei que tava livre pra fazer uma coisa, mas na verdade eu tava me prendendo mais uma vez num lugar sujo e tóxico que existe dentro de mim e que, só agora, eu pude perceber. Depois de quase te perder aqui no meu quarto. Depois de te implorar da forma mais desesperada que pude implorar, sabendo que eu não merecia nada. Depois de sair de mim mesma e desejar a morte e deixar cicatrizes profundas físicas e mentais. Eu finalmente vi os postes e paredes em que andava me esbarrando. Parece óbvio.... mas sempre me achei bem resolvida em relação ao meu controle, às minhas vontades. Até perceber que eu estava em um padrão de impulsividade auto destrutivo (ou só destrutivo no geral). E que eu fazia isso de várias maneiras pra não me confrontar com minhas próprias questões. Isso tudo é pra tentar dizer que eu me enxerguei.... e fui extremamente sincera quando disse que eu não queria um outro caminho que não fosse do teu lado. Que eu finalmente me via em um espelho e não queria ser aquela que via. Que na verdade aquela não era eu, mas sim alguém que me deixei ser em momentos que me deixava tomar por um transtorno, por não enxergar que isso era um transtorno. Não tô dizendo que deva me perdoar e não sentir nada de ruim porque eu tenho uma *doença*. Eu SEI a minha responsabilidade, minha culpa e carrego minhas dores e vergonhas. Eu machuquei uma das pessoas que mais amo na minha vida. Com quem me importo e só quero o amor recíproco e a felicidade. Alguém que na verdade eu queria proteger de toda a dor. O que eu tenho a acrescentar nessa conversa, diferente da outras que já tivemos, é que eu me enxerguei. Vi minhas feridas e com toda a força do meu ser neguei me tornar aquilo. Por mim mesma, por descobrir que só tava me machucando, e por ti, por ter brincado, mesmo sem querer, eu juro, com teus sentimentos. Eu me enxerguei e a partir da decisão de não querer mais isso me comprometi comigo mesma a aprender a não cair nos meus próprios pés. Sei que deve tá passando por um inferno agora, mas de um jeito diferente nem melhor nem pior, eu também tô passando. Imagina o maior erro da tua vida ter sido causado por ti e tu querer reparar isso com todas as forças do teu ser.... Eu quero e escolho o nós todos os dias. Com toda a minha vontade, amor e paixão. Eu quero nossa vida tranquila. Eu quero o nós. E todo dia que me acordo eu escolho isso.... Eu te amo, de tantas maneiras que não consigo explicar porque sempre parece menos do que realmente é. É como se a gente já tivesse vivido uma vida juntos e ainda querer tanto. É eu querer ser infinito só pra ter esse infinito contigo. Eu não explico a sensação que é estar ao teu lado e sentir que é a minha casa, sentir que está tudo no lugar certo quando te abraço (e enquanto escrevo isso é a coisa mais desesperada que eu desejo). Tu é a primeira pessoa pra quem quero contar meus segredos e medos, alegrias e conquistas... Eu te amo com cada célula do meu corpo e mais e mais e mais. Me desculpa por fazer essa bagunça.... Me desculpa pelos meus transtornos (com CID ou não). Espero que consiga me enxergar além disso.... De todo o meu coração. Sinto tua falta. Te amo, te amo, te amo, te amo. Infinito.